terça-feira, 29 de março de 2011


Céu! Céu! Nada mais que céu.


Minha alma ruma ... entre ideais condenados,
Sinto os gritos de outros que como Eu,
Se lançam rebeldes contra todas as causas...

Nuvens solitárias moven-se lentamente para o oriente,
Impulsionadas por uma brisa indolente, que sopra, conduz.

Infindavelmente sinto necessidade de reinventar-me,

Salvação ou perdição?

Meu oceano interno recorda armadas perdidas,
A costa é o palco, confuso entre as altas ondas que se rebelam.

A doce brisa acaricia o meu rosto,

Como os sedosos lábios de ninfas,
Sinto a minha face corar sem razão ...

Por segundos sinto-me próximo de meu sonho ... chego a tocar suas mãos,
Entre a cortina que separa a realidade e a ilusão.

O dia rende-se, mas o oceano não conhece refúgio,
Mergulho sobre ele com as asas da psiqué ...
O sol do entardecer é agora apenas uma carícia que se foi.


Refrescado pelas gotas que se evaporam,
Vou ao profundo ...

Areia e sal revestem-me a pele,

Terras, vulcões e Mares no corpo, causando confusões e erupções internas,
Uma galáxia no espírito … (desejos, saudades, mágoas, não sei mais que)

Abro os olhos, estou de volta,

Nada foi real,
Apenas flutuei … me deixei levar ...
como as folhas do Outono ...

Luciano Braz




“Apenas se vê bem com o coração, pois nas horas graves os olhos ficam cegos” (Antoine Jean Baptiste Marie Roger Foscolombe de Saint Exupery, escritor, ilustrador e piloto, 1900-1944).

O ver dos olhos físicos nem sempre garante a boa e verdadeira visão da realidade. Por vezes, eles nos são empecilhos para enxergar o essencial. Acontece corriqueiramente de eles ficarem cegos diante das situações mais embaraçosas que nos atingem. Diante de discussões mais “apimentadas” ou mesmo em brigas banais, por exemplo, dificilmente conseguimos ter olhos limpos para perceber para além do conflito momentâneo o que realmente deve ser levado em consideração. Nas horas mais exigentes de nossos afetos e emoções, nos momentos em que a razão nos pede maior reflexão e sensatez, nos ocorre a estranha sensação de estarmos “cegos” para dar uma resposta certeira. Falta-nos, sem dúvida, um olho e um olhar mais profundo e mais clarividente para perceber as coisas na sua verdade. Esse olho e olhar que tanto nos falta é o que em geral chamamos de olho e olhar do coração. Ele é mais difícil de ser acionado, mas está em cada um de nós. Só precisa ser cultivado com maior interesse e empenho. Ele é sutil e se cala em meio às nossas agitações e apavoramentos. Ele se retrai quando o forçamos para fazer valer nossa vontade de domínio e poder. O olho e olhar do coração sonda tudo discreta e limpidamente, sem alvoroço e pressa. Dia após dia, situação após situação, ele vai colhendo experiências, purificando tudo e arrematando conclusões mais sadias e sensatas para o nosso pensar, agir e sentir. Na quietude e silêncio de nossas emoções e pensamentos disparados, de nossas compreensões e pré-compreensões, ele enxerga o verdadeiro núcleo das coisas e situações e é capaz de trazer do meio de nossas irreflexões e afobações de atitudes, uma convocação à parada, a um estratégico recuo e a um tempo razoável para deixarmos a poeira de nossas correrias baixar para vermos mais clara a paisagem das coisas e que decisões mais acertadas que devemos tomar. O olho e o olhar do coração aparecem muito nas mães, naquela atenção sempre presente de quem escuta, espera, silencia, acolhe e trabalha a vida nas suas mais diversas manifestações. Talvez seja por isso que elas olham e vêem bem o que se passa. Isso é fruto de um coração limpo e um coração limpo e puro sempre vê o que é importante, ou melhor, o que é mais importante em tudo. Minha Mãe percebia o mundo assim, Saudades dela!



Um abraço carinhoso a quem passar por aqui ...

Qualquer dia a gente se encontra ...